A Crónica de 1344, da autoria de Pedro de Barcelos, filho natural do rei D. Dinis de Portugal, é uma das mais emblemáticas obras da cultura ibérica do século XIV, com larga fortuna em Portugal e em Castela ao longo dos séculos seguintes. Teve, porém, uma transmissão textual atribulada – passando por uma reformulação por volta de 1400, seguida de uma abreviação e continuação pouco antes de 1460, além de sucessivas traduções para castelhano – da qual resultou uma tradição manuscrita bilingue e lacunar onde não se conta nenhum testemunho português da crónica original. Estas circunstâncias tiveram consequências na difusão editorial do texto. Apesar de a obra ter sido objecto de duas edições críticas, a sua secção final, contemplando os reinados castelhanos de Afonso X a Afonso XI, permanece inédita. De facto, Lindley Cintra publicou, entre 1954 e 1990, o texto português da reformulação c. 1400, que termina em Fernando III; quanto a Diego Catalán, deu à estampa, em 1970, a secção inicial da crónica original, radicalmente alterada pela reformulação e que subsiste apenas em tradução castelhana. Desta forma, a secção da Crónica de 1344 posterior à morte de Fernando III, cujo texto integral se conserva também apenas em castelhano, continua confinada aos manuscritos. O presente trabalho vai dar a conhecer esse relato de um passado recente, que documenta uma visão privilegiada das relações entre os reinos peninsulares nesse conturbado período da história ibérica e constitui uma peça chave no complexo entrecruzamento de textos historiográficos medievais em galego-português e em castelhano. Investigação conduzida no quadro do projecto “Pedro de Barcelos e a monarquia castelhano-leonesa: estudo e edição da secção final inédita da Crónica de 1344” (XPL/CPC-ELT/1300/2013), financiado pela FCT e pelo COMPET.